O uso de combustível sustentável de aviação (SAF) pode reduzir os impactos climáticos da formação de rastros de condensação, os contrails, na comparação com o consumo de origem fóssil. É o que apontou um estudo conduzido pela Airbus, Rolls-Royce, Centro Aeroespacial Alemão (DLR) e Neste.
O projeto ECLIF3 realizou um voo em abril de 2021 com um Airbus A350 equipado com motores Trent XWB-84, que foi seguido por uma aeronave de testes Falcon da DLR para medir a presença de cristais de gelo, gases residuais de dióxido de carbono (CO2) e óxido nítrico (NO), bem como aerossóis e vapor de água. Para a medição foram usados dois espectrômetros de laser de dispersão frontal a bordo do avião da DLR.
Simulações de modelos climáticos globais conduzidas pela DLR foram usadas para estimar a mudança no balanço de energia na atmosfera da Terra — também conhecida como forçamento radiativo — pelos rastros formados pela aeronave. De forma conservadora foi estimada uma diminuição de 26% no forçamento radiativo.
De acordo com os resultados do estudo, “para condições atmosféricas e de funcionamento do motor semelhantes às da aeronave anterior num único voo, foi observada uma redução nas concentrações de gelo de 56%, com enxofre e aromáticos quase nulos em comparação com o Jet A-1, enquanto as emissões de partículas não voláteis foram reduzidas em 35%.” Além disso, houve uma redução de 60% nas concentrações no número de fuligem.
Para o voo do ECLIF3 com 100% de SAF foi usado combustível produzido pela rota tecnológica HEFA-SPK (querosene parafínico sintético de ésteres hidroprocessados e ácidos graxos), que apresenta menor teor de enxofre, o que pode explicar a redução maior dos cristais de gelo em comparação com a redução de fuligem.
“As composições dos combustíveis do Jet A-1 e do SAF são variáveis em termos de teor de hidrogênio, aromáticos e enxofre, que impactam as emissões de partículas e devem ser levadas em consideração na decisão sobre estratégias para reduzir o impacto climático da aviação por meio do uso de combustíveis sustentáveis de aviação. Além disso, um combustível de aviação mais limpo, com um baixo teor de aromáticos e de naftaleno naturalmente (ou obtido artificialmente), bem como um baixo teor de enxofre, poderia reduzir o impacto dos rastos no clima”, sugere o estudo Powering aircraft with 100 % sustainable aviation fuel reduces ice crystals in contrails, publicado na revista científica Atmospheric Chemistry and Physics e assinado por 22 pesquisadores da DLR, Airbus, Rolls-Royce e Neste.
O estudo faz uma ponderação em relação à composição do SAF e à rota tecnológica usada para obtê-lo. “Embora o HEFA-SPK medido proporcione um benefício em relação ao impacto climático dos rastros, o benefício climático total de diferentes tipos de SAF depende do método de produção de combustível e do tipo de SAF utilizado. Além disso, a composição aromática do querosene desempenha um papel importante”, aponta.
Na companha ECLIF3 foram realizados dois voos, mas o realizado em 16 de abril de 2021 proporcionou melhores condições para o estudo, já que produziu dados de rastros sob condições supersaturadas de gelo numa estreita gama de condições atmosféricas ambientais e de motor. O voo ocorreu sobre o Mar Mediterrâneo na direção Norte-Sul, a Oeste da Córsega e da Sardenha, com os motores queimando 100% de Jet A-1 de origem fóssil e de 100% SAF, sequencialmente. O A350 estava voando a 35.000 pés no momento das medições.
O artigo científico com todos os detalhes está disponível na plataforma da revista Atmospheric Chemistry and Physics.
Veja abaixo imagens do voo do projeto ECLIF3, realizado em 2021 sobre o Mar Mediterrâneo.