Voo Limpo Combustíveis CIBiogás inaugura planta de produção de bio-syncrude para SAF

CIBiogás inaugura planta de produção de bio-syncrude para SAF

Unidade localizada na usina de Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, operará em escala piloto para produzir óleo sintético a partir do biogás e que será base para a produção de combustível sustentável de aviação

Planta piloto SAF
Planta piloto fica localizada dentro da usina de Itaipu. Foto: Gustavo Ribeiro/Voo Limpo

O CIBiogás inaugurou nesta segunda-feira (17), em Foz do Iguaçu, no Paraná, uma planta piloto que usa o biogás para produzir o bio-syncrude, um óleo cru sintético com características semelhantes ao petróleo bruto, e que serve como base para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF).

A Unidade de Produção de Hidrocarbonetos Renovável, localizada na usina de Itaipu Binacional, produzirá 6 kg de bio-syncrude por dia. Esse material será enviado para o Laboratório de Cinética e Termodinâmica Aplicada (LACTA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para caracterização e refino para obtenção de frações de SAF.

A planta do CIBiogás, uma Instituição de Ciência e Tecnologia com Inovação (ICTI+i) que se dedica ao desenvolvimento do biogás como recurso energético, utiliza até 50 Nm³ por dia de biogás produzido na unidade de biodigestão da Itaipu Binacional como principal fonte de carbono para a produção dos hidrocarbonetos. Além disso, são utilizados diariamente 53 Nm³ de hidrogênio verde produzidos pelo Parque Tecnológico Itaipu (PTI).

“Estamos entregando um acúmulo de pesquisas que serão aprofundadas a partir de agora e que juntas darão origem ao SAF. Haverá ainda muito investimento ainda”, disse o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Enio Verri.

O biogás é um biocombustível produzido a partir da decomposição de materiais orgânicos, sejam eles de origem vegetal ou animal, que produzem uma mistura de gases, constituída principalmente de metano e dióxido de carbono (CO2), que são dois gases do efeito estufa. 

Depois de tratado e ajustado, o biogás entra no reator de reforma a seco para produzir o gás de síntese (syngas), uma mistura de hidrogênio (H2) e monóxido de carbono (CO). Na sequência entra o reator de Fischer-Tropsch (FT) para converter o gás de síntese no bio-syncrude. Neste processo é adicionado o hidrogênio verde, responsável pela hidrogenação do monóxido de carbono e que vai formar os hidrocarbonetos na faixa de cadeia carbônica de C8 a C16, intervalo do querosene de aviação (QAV). O hidrogênio é proveniente de eletrólise utilizando energia renovável do PTI.

O investimento de R$ 9 milhões na planta foi feito pelo governo alemão por meio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ), dentro do projeto H2Brasil, implementando pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ). A unidade do CIBiogás é fruto da parceria entre a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, UFPR, Fundação Araucária, PTI e Itaipu Binacional.

“É impossível fazer ciência e tecnologia no Brasil em um viés único e sozinho. Precisamos de parceiros. Cada componente tem alguém especializado e juntar todos nesse aspecto é o desafio. Muitas vezes os interesses não convergem. Mas nesse caso conseguimos convergir os interesses para construir essa parceria”, comenta o diretor-presidente do CIBiogás, Rafael Hernando de Aguiar González.

A expectativa do CIBiogás é poder transferir a tecnologia da unidade para escala comercial, atestando que o processo é confiável e com potencial financeiro para investidores. De acordo com a instituição, o biogás tem grande potencial, notadamente no Paraná. Se todo o potencial mapeado fosse utilizado para o SAF, seria possível produzir cerca de 100 mil m3 de SAF por ano, o  equivalente a 45% de todo o querosene de aviação (QAV), de origem fóssil, que saiu em 2023 da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.

“A partir de agora vem o trabalho de escalar a tecnologia. Para isso, estamos falando de um local específico, a demanda certa, colocar a tecnologia à disposição e os atores certos para dar outro tamanho a essa planta”, acrescenta González.

Sair da versão mobile